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EDMILSON

 

Um dos motivos que me levou a querer ser fotografo documental ou fotojornalista foram as pessoas, principalmente para poder ser uma voz que quem não consegue te-la.

Tenho um amigo a viver à quase 20 anos em Moçambique que uma vez me falou sobre os Albinos em Africa, a perseguição, as torturas, os massacres, os raptos, as mortes e fiquei incrédulo. Fiquei com um sentimento que até hoje ainda não consigo descrever por albinos. Mais tarde na ilha de Moçambique tive oportunidade de fotografar uma família que tinha 4 filhos albinos e perceber as dificuldades que este enfrentam. Mais tarde e até hoje, comecei a  ir com muito frequência a São Tomé e Príncipe em Trabalho, e vi uma fotografia do Edmilson, porque até então ainda não tinha encontrado muito albinos em São Tomé. Um país leve-leve e tranquilo mas sabendo o histórico dos albinos em Africa, quiz logo procurar o menino e saber como vivia e como era o papel dos albinos em São Tomé. Percebi que lá era tudo diferente, mas sabendo de historias de raptos em outros países, porque não fiquei atento. Foi aí que falei com um amigo meu são-tomense que conhecia ele. Fomos a casa dele, conhece-lo e à família. Mostrar a minha vontade e disponibilidade em ajudar o Edmilson no que fosse preciso, pedido à mãe em troca apenas que o acompanha-se o amais possível a escola. Percebi que ela era especial, e não era por ser albino mas pelo coração que tinha. Edmilson nome de casa, Osmar nome de escola, prontamente abraçou-me, fiquei até um bocado sem jeito e emocionado. A partir desse dia Willy meu “irmão” em São Tomé começou regularmente a acompanhar Edmilson na escolha junto da professora. Começava assim uma linda jornada até aos dias de hoje. A cada vez que vou a São Tomé e Príncipe vou sempre visita-lo. Numa das primeiras vezes, com a ajuda de alguns amigos, levamos roupas, material escolar e cremes para a pele sensível dele. Edmilson gosta de andar é descalço, mas levamos um sapatos, para ele poder jogar à bola, mas parecia que não sabia andar neles. Ria-se profundamente ao correr com as sapatilhas calçadas. Percebi que ele não tinha óculos de sol, acabei por deixar os meus. Tirei alguma fotografias a ele e é aqui que penso que o poder da fotografia é incrível. Partilhei um pouco da historia dele usando as fotografias que lhe tinha tirado, e a ajuda veio logo prontamente. Numa das minhas passagens por São Tomé fiz-lhe surpresa, não estava em casa, nem na escola. Procurei-o e não encontrei, até que falei com a Avó, que me disse que Edmilson estava a faltar à escola, que gostava era de andar no mato a “trabalhar”, a capinar ou a apanhar cacau. Fui embora triste nesse dia, mas não ia desistir. Falei com Willy e juntos conseguimos de novo meter o Edmilson a estudar. Percebi porque não gostava de ir para a escola. Não aprendia ao ritmo dos outros porque devido a ser albino tem pouca visão. Pedi à professora para o meter o mais perto possível do quadro, mas mesmo assim ainda vê mal. Consegui um apoio para o levar a uma consulta ao hospital para usar óculos e melhorar a sua visão e por sua vez tentar mudar o rendimento escolar.

Mais uma voltinha a São Tomé e faço surpresa na escola. Desta vez lá estava ele, avistou-me de longe e veio a correr abraçar-me. Já na sala reparei que não tinha material escolar, e perguntei o que era feito do monte de coisas que lhe tinha dado. É aqui que percebo junto da diretora da escola que este menino era ainda mais especial toque imaginava. Levou tudo o que tinha juntado para a escola e partilhou com os amigos. Percebi que tinha que falar com a mãe para ela controlar melhor as coisas que lhe dávamos. Já em casa dele, fico estupefacto quando percebo que Edmilson e o irmão dormem no chão os dois, sem colchão ou cobertor, apenas enrolados numa pequena capulana. Novamente o poder da fotografia e logo prontamente consigo algum dinheiro para comprar uma cama e um colchão para ele. Gostava que vocês pudessem ver a felicidade na cara dele quando fui montar a cama na casa dele. Foi a vez que o vi mais feliz. Em breve visitarei-o de novo e certamente irei trazer na bagagem uma nova historia dele. Pediu-me uma bicicleta, pois a escola dele fica a uns bons kms. Vou tentar outra vez através da fotografia angariar apoios para lhe oferecer a bicicleta, mas apenas se ele conseguir passar de ano. Quantos Edmilsons existiram pelo mundo? Esta historia está longe de terminar, mas é por situações como estas que acredito que a fotografia tem ainda um poder de choque gigante, e que pode ajudar muita mais gente.

Recentemente no passado mas de abril venci câmara de prata de fotografo europeu de 2025 na categoria de reportagem/ fotojornalismo com uma fotografia do Edmilson, no qual senti logo o orgulho que tenho em ser fotógrafo, em contar historias, inspirar pessoas a serem melhores pessoas e ao mesmo tempo através da fotografia poder ajudar pessoas como ele. 

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